Segundo o Dr. Fernando Azpiroz, chefe do Instituto de Pesquisa do Hospital Vall d’Hebron de Barcelona, Espanha, sim.
O Dr. Azpiroz está liderando um projeto de pesquisa que busca demonstrar a habilidade dos alimentos em melhorar e promover o “conforto digestivo” ou simplesmente a boa digestão e a sensação de bem estar após uma refeição.
Todo este esforço científico originou-se de uma queixa frequente de pacientes que consultam com especialistas em Gastroenterologia: “estufamento na barriga após as refeições”.
Durante a 20ª Semana de Gastroenterologia da União Européia, que aconteceu em Amsterdam, Holanda, o Dr. Azpiroz ministrou uma palestra intitulada: “Reflexos motores, sensitivos e viscerosomáticos associados à distensão abdominal”, onde foram apresentadas novas informações sobre os mecanismos de funcionamento do intestino delgado.
Essas informações aprofundam o conhecimento nessa área e permitem o melhor entendimento das desordens funcionais associadas e, consequentemente, abre rumo para novos tratamentos.
De uma maneira simples e resumida, ficou claro que existem diferenças entre “estufamento na barriga”, que é a sensação subjetiva de aumento do volume e/ou pressão na barriga, com ou sem alteração na medida da circunferência abdominal e sem aumento no volume de gás intestinal, e “distensão abdominal”, que pode ou não estar associada à sensação de estufamento, mas, necessariamente, está associada a um aumento da medida da circunferência abdominal e do volume de gás contido no intestino.
Os estudos em andamento apontam para uma maior sensibilidade a pequenas variações do volume de gás intestinal em alguns pacientes. Nesses pacientes, a queixa de estufamento é muito comum, mas o médico pode não detectar alterações no exame físico.
Nos casos de hipersensibilidade do intestino, não existe um aumento importante do volume gasoso abdominal, conforme constatado em exames de tomografia computadorizada, mas esse aumento é capaz de desencadear respostas neurológicas, ou seja, esse estímulo desencadeia respostas compensatórias no sistema nervoso do paciente, que consistem no relaxamento dos músculos da parede abdominal e na contração do músculo diafragma.
Num segundo tempo, estas respostas compensatórias causam o aumento do volume e protrusão da barriga dos pacientes afetados.
Tudo isso parece um pouco redundante, mas só parece. O efeito prático do melhor entendimento destes mecanismos é visto no tratamento. O enfoque do médico muda completamente, ficando evidente o motivo da falha frequente do tratamento padrão que busca reduzir a formação e facilitar a eliminação de gases.
Nos pacientes com sensação de estufamento na barriga o tratamento deve visar à redução da hipersensibilidade intestinal a pequenas e insignificantes variações do volume gasoso e o fortalecimento da musculatura da parede abdominal através de técnicas de biofeedback, que são exercícios de contração regular desses músculos acompanhados por um sistema computadorizado específico.
Enquanto que nos casos de distensão abdominal, o tratamento convencional funciona de maneira mais eficaz.